O medo é intrínseco à coragem,

pois se ele não existisse

não haveria a necessidade desta.

 

Cedrar-se de medo

diante do mundo que roda

é o caminho para

o nascer da coragem.

 

No batismo de outono,

muitas vezes,

nos deixamos abater.

 

Perceber nossas folhas secas

caindo uma a uma,

sentir os dias chegarem,

esperá-los, sem mais festas de rainha

e a roda do mundo a nos prensar

com o desafinado de cada ano

pode assustar, mas

nos fazer buscar refúgio

no absinto da cor do amor.

 

Embriagados de vida, com o tempo,

as fugas se tornam raras e por fim,

nos rendemos ao volupeio

do corcel do tempo e às rendas

e (in)precisas verdades.

 

O voo tonto dos deuses nos acaleta

com suspiros de dor de amor.

 

Recebemos, de presente,

um mundo de dois

que só roda pra um lado:

avelar-se às macieiras

cujo maior evento

é querer viver

em aviz e mármore puro.

 

Ah! amor meu!

 

É quando conquistamos a espera

do que buscamos e agora alcançamos

- o aval dos deuses em reviver

e fazer eternas nossas memórias semi-mortas.

 

Livres, dissidentes, sim,

mas o medo ainda faz parte da vida,

ainda está lá, somos presa dele.

Temos medo de voltar a perambular

pelo tempo de aves enfeitadas de vazios.

 

Mas, não há que desistir nunca.

Não desista de você

que eu não desisto de mim.

 

E, por favor, no amiscar do sol,

não quero ser rainha dos césares

ditando leis e dogmas

que a mim mesma me fazem feridas.

E, não preciso de respostas

para a pergunta que me ateia

e enquanto me faz pávida pela sua resposta,

me torna lívida de espanto

por já saber a resposta:

que faço eu aqui?

nesta roda do mundo

que menos me fala,

que mais me dói.

 

Se mais me dói,

mais eu me sinto.

E sinto!, me sinto:

voraz coragem,

eis o que não me rareia.

Enfrento meus medos

e agora estou cá,

avelado e atrelado de viver

em aviz de puro

e belo mármore de amor.