Quanto tempo, quanto tempo andei

em minha própria companhia.

Quanto tempo vaguei atormentada

por memórias que lancetavam

lágrimas nos olhos da alma

e nunca se aquietavam com sua dor.

 

Também falei por silêncios,

calei ecos e joguei espelhos pela janela

porque não queria contemplar

minha face de escuridão.

 

Habitei vazios que agigantavam

silentes de breu e lama

de minhas próprias pisadas

ao redor de mim mesma.

 

Desenhei minhas perdas

e anunciei meus fracassos

antes mesmo de lutar.

 

Fechava os olhos

e deixava a água escorrer

cachoeiras pelo corpo cansado

e sobrecarregado de angústias.

 

Com o bico arranquei minhas penas

e as enterrei fundo

em poços desativadas e bloqueados.

Deixei lá na boca poço com tampa

de ferro e solda de barro e argila.

Ninguém mais abre,

Ninguém mais entra.

Ninguém mais sai.

 

Hoje, falo por silêncios...

e ele me responde... em silêncios... amor...

Ergo as asas por sobre suas lamúrias

e faço meu voo pra dentro de tua luz.