Porta de Emergência
Não há como esquecer o todo das guerras.
Cicatrizes ficaram em nosso corpo,
cicatrizes que ainda te fazem chorar
e agir como age - com medo -
cicatrizes que ainda me fazem chorar
e agir com ajo - com medo e em fuga.
Nós temos sim de aprender
a olhar com dignidade para nossas cicatrizes,
reconhecer que elas existem
e estão lá para que não nos esqueçamos
que daquela maneira,
se continuarmos a caminhar,
vamos nos ferir da mesma forma,
ou que podemos escolher
estradas diferentes que nos levem
para onde hoje queremos ir.
Naquele tempo você
não sabia o que queria.
Acho que desejava o mundo
e eu só queria você.
E, pelos resultados,
não havia como
eu tê-lo naquele momento.
A pergunta,
cuja resposta é você,
paira ainda no ar...
a sua escolha sou eu?
mesmo, mesmo?
Hoje eu sei o que eu quero,
mas vejo que o tempo
ainda está desconectado de mim,
as mensagens na parede
me pedem para não desistir,
para resistir, que serei protegida,
cuidada, então eu sei...
que há mais tempestades a enfrentar...
pra eu enfrentar -
ainda causadas por ti...
eu só não sei...
se eu vou sobreviver...
isso eu não sei...
não sou mais
a mesma Maria,
forte, guerreira....
eu aprendi a desistir,
calar, esconder, camuflar...
Posso e tenho um lugar para falar
que fica tão escondido,
mas tão escondido
que até eu mesma
tenho dificuldades em lá chegar.
É uma porta de emergência...
pra fugas de colibris,
esconderijo de ti,
de mim, do mundo...
nenhum som sai de lá...
eu já vivi lá muitas vezes.
Ainda há vozes e lágrimas
escritas nas paredes -
que não tive coragem de apagar...
mas, até hoje, só meus olhos
as contemplaram.
Nenhum outro ser humano
adentrou os pés nesta caverna
a não ser eu...
um dia te levo lá...
se você escolher só comigo ficar...
se tua escolha te levar
para longe de mim outra vez...
tranco todas as portas
do meu mundo
e mudo minha alma para lá...
e nunca, ninguém,
nem nada, nem você
ou qualquer outro ser humano
além de eu mesma vai me achar...