Dia de Cais

Sei que procuras em mim a paz de um dia de cais

do silêncio de meu porto.

Então vem, pousa em minhas areias

aquecidas pelos raios do Sol,

atraca tua canoa em minhas tábuas,

amarre em meus ferros.

 

Vem!

 

Fecha as cortinas de teu corpo e vem devagar,

bem de mansinho, desliza em meus pra dentro.

 

Sou teu!

 

Passe por cima do medo mulher de ânsias,

esqueça as estrelas de plástico e desveste

o ciúme e o embaraço... abra o zíper de tua alma.

Veste tua nudez com meus braços.

Acople tua pele na minha, pode ser aqui,

no piano, na cama, na grama do quintal ou jardim.

Desnuda-te em mim tua floresta.

Faz tapete de folhas secas e deita nele

para sarar tuas ânsias de sono e sonho.

Dorme em mim.

 

Afogue tuas angústias na fonte de água fresca.

Beba com gosto, como passarinho sedento

e vindo dos desertos de caos,

no torhu waboru de tua escuridão.

 

Me ame no afã deste calor que te ferve as veias

e aquece teu sangue intumescendo

tuas armas prontas para a batalha.

 

Desvenda meus proibidos e desvela o novelo

e os fios que ainda me prendem em mim mesma

para que eu possa me transportar,

viola na dor do Poeta que a dedilha,

olhos fechados, peito em dor...

 

Eu sinto! tua morte, teu renascer

para mais uma vez morrer

enquanto minhas narinas

se abrem e se fecham

farejando teu cheiro inebriante

e meus lábios saboreiam os teus

como um vinho raro e nacarado de amor.

 

Sou teu mulher de luz:

também sou tua,

meu mar de águas quentes

e ondas de só amor.