Sons em Código Morse

Aprendi tão bem a profissão.

Que agora só me pedem

para assim mensagens passar.

 

Vou dedilhando códigos,

inventando cada um

como se ainda não existissem.

 

Esse... diz do que não sei

ou não quero falar

por vergonha, encabulamento,

enfim, eles contam do que,

agora, agorinha,

minha pele está a sonhar.

 

Falar mais? Não posso.

Teria de contar dos arrepios

que me percorrem,

que navegam

como Orion e Artemis

em meu espaço e sei

que fazem tanto barulho

que chegam até você.

Seu silêncio de esperas,

sua pausa de... Meu Deus!

O que ela está fazendo comigo?

 

Eu posso ouvir, assim, assim,

nessa urgência de sons e gemidos

que vão crescendo, silenciando,

gritando, se arrepiando,

e que fazem as mãos

que digitam os códigos tremer...

 

Os braços perdem as forças,

ficam moles, quentes...

é um calor que invade o espaço...

dança com os nervos,

com as veias

que se inflamam

flamenjantes e afoitas

e se fundem numa explosão

do nascimento de uma estrela.

 

Falo da “Ampulheta de Fogo”, 
o nome pop de disco protoplanetário 
resultado da explosão de matéria 
que origina uma nova estrela, 
planetas, satélites e asteroides 
ao longo de bilhões de anos.

 

Falo dessa imagem captada

no espaço entre a minha janela do tempo

e a janela do tempo do destinatário

de meus sons em mouse

uma espécie de “ampulheta”

de fogo e luz no meio do espaço. 

 

É a luz mais linda

que se pode ver na tarde que vivemos. 

“A luz da protoestrela vaza

acima e abaixo desse disco,

iluminando cavidades

dentro do gás e poeira circundantes”,

dando-nos uma boa visão

de como o nosso Sistema Solar foi formado

e, a partir da reunião dos materiais

emitidos ao longo da explosão,

o surgimento de uma só estrela

a partir da fusão de dois discos

que se unem em sua escuridão

e formam um centro brilhante,

do tamanho do Sistema Solar.

 

É um momento denso e feliz,

onde a captura de luz incomum

deixa explícito

os primórdios da eternidade,

o início de um mundo,

um planeta que, a partir

dessa explosão de L1527

crou uma janela

para o que o Sol

e o Sistema Solar

se unissem

em suas tenras origens.

 

Falo dos Pilares da Criação,

quando duas luzes se encontram

ao redor do espaço de um jardim

capturando-se mutuamente

e gerando uma explosão

colorida de imagens incríveis

do surgimento

de outros sistemas estrelares

ao redor do universo

e a nossa própria origem como luzes

de amor, em voo de eternidade.