Enquanto procuravas teus caminhos,
enquanto perambulavas entre as estrelas
eu sempre estive aqui, fiel, te amando
como ninguém mais e como ninguém jamais.
Nunca me ausentei.
Talvez tenha silenciado
porque você não me achava.
Escondia minhas músicas,
disfarçava meus jardins.
Construía um novo e destruía o outro
para que não fosse encontrada.
Mas segui tecendo canções.
Toda dor dilacerando os poemas,
o sofrimento destilando as palavras,
o sonho enlaçando tudo e dando a leveza
para quem as cartas encontrassem suportar sua leitura.
Eu também nunca superei partidas.
Eu sabia que estavas falando com outras faces,
mas não acreditava mais que pudesse ser.
Só via semelhanças,
como todo aprendiz aprende a reconhecer,
mas achava que eram frutos de minha imaginação fértil.
E segui sozinha o meu caminho.
Eu cresci enquanto caminhava.
Fiquei forte. Aprendi a me calar a todos.
Aprendi a só cantar, cantar
sem que qualquer pessoa
pudesse me ouvir ou de mim saber.
Minhas músicas ficaram escondidas
em áreas restritas do meu jardim por anos e anos.
Cartas que havia escrito para você eu escondi.
E foi agosto agora que as soltei ao vento novamente.
Para que chegassem ao teu colo se um dia as buscares.
A gente sempre se fere em qualquer processo.
Faz parte da natureza humana
quebrar nossas próprias asas.
Eu também fiz isso.
Tive de lamber o sangue de minhas asas muitas vezes,
tive de suturar cada corte que eu mesma me fiz.
Não te culpes, nem te deixe dilacerar
pelo cansaço e pelos apertos no coração.
Eu estou aqui, você está segurando
minha mão e não há o que perdoar.
Nós dois erramos.
Eu quando te sufoquei e você quando fugiu
do que não tinha fuga a se fazer.
Você sempre me teve. Você me tem.
O passado não vai morrer.
Pelo contrário.
Ele já está gravado na pedra domo da vida,
está gravado na abóboda principal
da catedral do coração para que o mundo
possa encontrar nossos arabescos
e sonhar como sonhamos, e viver o sonho...
para poder seguir, juntos, em paz,
com nosso amor de asas e eternidade.