Conheço Meu Silêncio

Eu conheço o meu silêncio.

Nele nado por tanto tempo

que me faz ser sem sentimento algum.

Todos em você, que silencia em mim

os barulhos da alma, as inquietudes interiores.

 

Caminho com meu silêncio

nas horas brandas e quentes do dia,

ouço seus barulhos me chamando para te olhar,

mesmo sem saber como meu olhar chega até você

por meio da janela do tempo.

 

Meu silêncio me pergunta:

o que fazer com tanto sentimento?

E me responde:

olhe as nuvens no céu dependuradas

nos quadrantes do universo.

Cada uma em seu lugar,

cada uma com seu jeito de ser.

Umas mais perto do céu,

outras mais perto da terra.

Algumas tocando a montanha

com sua névoa de surpresas

e sabedoria dos sonhos e projetos de vida.

 

Há muito tempo sei conversar com meu silêncio.

Esse mesmo que já foi tantas vezes questionado -

o porquê do olhar distante,

preso em algo que não se vê,

não se ouve, não se toca a não ser com a alma.

 

Conheces profundamente os meus silêncios.

Sabes quando ele chora, quando sonha,

quando ri e quando quer gritar.

 

Também sei do tesouro

que é silenciar na hora certa,

conheço o silêncio do arco-íris,

o silêncio que se percebe

e percebe o mundo ao redor.

Conheço o silêncio que se cala

e aquele que fala quando é necessário.

 

Se busco fugas em mim é em ti que corro

pois que estás aqui, dentro em meu coração.

 

Sei do barulho caótico dos pensamentos

e tu sabes que são eles que desenham

a maioria de meus quadros de frases incompletas,

cortadas, sem chegadas.

 

Já me construí e desconstruí várias vezes

no edifício das palavras.

São tantas vezes que morri que já perdi as contas,

de morte morrida, de morte matada, não sei, morri!

 

Quantas tempo me sento na varanda

com meus desassossegos contemplando

o ir e o vir das águas do mar

ou as correntezas do rio,

olhando a paisagem do caminho,

olhando meu próprio silêncio

e a ele tentando compreender...