Amor de Líquens

À mesa de chá,

me roça seu perfume, 

sua presença amada que,

sem respirar,

aspiro e me embriago,

me enrolo em seus

tufos algodoados de líquens

que vejo num dia de sufrágio

na árvore amada.

 

Hoje eu sei

que a pergunta e o silêncio

de uma parada

numa imagem do vento

levando cada fio

em cada cordão dependurado

era para que

eu pudesse compreender

o rufar dos tambores

dentro do peito

e reconhecer neles

o meu amor.

 

Hoje sou gerânio,

sou suas folhas,

vivo nos antros dos sozinhos

a espera de tua presença.

Sou astro dos gergelins

e saboreio cada semente

com gosto quase etílico.

 

Também pergunto

a Zeus e Acróbios

o que fazer

com tanto sentimento

acomodado

em todos

os cantos do ser.

 

Sou o nada

para onde

você deve ir.

 

Fomento tua ida,

mas aviso que volta não tem.

Só sei guiar chegadas,

de partidas não se fala mais

a não que seja partir de ti

para dentro de mim.

 

Se sobram sementes

você não perdeu.

Ganhou o que plantar:

a vida que por ti brota,

a voz do deserto

que por ti

se lamenta e ama.

 

Recobre o céu de teu amor

e viva com aqueles

sem tempo, sem hora.