Poeira do Tempo

Somos poeira do tempo.

Nascemos numa nebulosa de luz

e dela nos afastamos sem perceber

que lá ficou nossa alma gêmea.

Por isso atravessamos o universo à procura.

 

Ambas caminhando por entre as estrelas,

como a Artemis I que irá em busca da Lua,

vagamos em busca de nós mesmos,

de nossa essência, de nossa identidade.

 

Enquanto não nos achamos

seremos sempre incompletos,

sempre metade.

 

Quando nos encontramos nesse outro,

quando nos encaixamos sem nem entender por que,

quando nos vemos no espelho,

quando nós nos reconhecemos em seus olhos,

em sua alma, sabemos

que encontramos o que procurávamos.

 

É quando o outro nos hipnotiza,

com seu jeito de ser, de falar,

de chorar, de mexer as mãos,

ajeitar as canetas sobre a mesa

como você faz com os talheres na cozinha,

quando as mesmas cores

os falam as mesmas coisas,

as mesmas flores nos encantam...

 

quando a alma sinaliza os mesmos registros,

as mesmas marcas, a mesma história

de nossos antepassados,

a história que nos dá identidade,

a mesma identidade.

 

Sabemos que nos encontramos,

quando descobrimos o meio do mundo

(Mitad del Mundo) de nossas vidas,

a linha central do espaço

em que vivemos que nos faz entender

que volta dali não há.

 

Então encerramos nossa expedição geodésica

de procuras e nos dedicamos a viver, intensamente,

a completude do ser, a viver o amor que,

há milhões e milhões de anos, nasceu conosco

e que, até entendê-lo, procuramos em outros corpos,

em outras almas e que agora, o coração sinaliza,

batendo forte o sentimento que já existia

e que não calava em nós a busca.

 

Agora que nos encontramos

temos a chance de viver, de sentir,

de amar como nunca amamos antes,

porque nós nos descobrimos um,

mesmo não sendo totalmente semelhantes,

nos completamos em nossa assimetria,

nos completamos em nossas similitudes,

em nossos Eu's, em nossas ânsias e agora,

completos, nós, sem medo, sem tempo,

sem hora marcada, nós nos amamos...

na completude e plenitude do amor e do ser...