Eu te preciso
Nas auroras do dia é em você que primeiro penso.
Sorrio sozinha, enternecida, sabendo que já estás lá,
a escrever, sonhando com a hora de eu acordar.
E quando você me chama depois das cinco da manhã,
eu acordo, mas volto a dormir, pensando feliz em ti.
Eu não sei dançar, nem instrumentos tocar,
mas sei em braile falar.
Também ainda não me descobri,
por isso te permito o desejo simples e torto,
a chegada sorrateira em mim,
sem perguntas, com o partilhar do que se é,
o repartir dos segredos do amor e da paixão,
a ousadia de ser feliz ao ouvir:
eu te preciso!
Eu te preciso no pouco que restou de mim
quando te conquisto e amo, quando sou toda você.
Eu te preciso no ângulo plano das estrelas,
no espírito sempre presente que me leva
à plenitude da vida que forma a angústia da espera
onde o tempo fica curto e se perde nas horas.
Te faço pária em meus braços,
colisão de ausências, a minha e a tua.
Te faço minha família, meu moinho espanhol
com pás ao vento e palha de mendigos,
uma pra acender, outra pra apagar.
Sou o tira dúvidas, caminho pedrado
de rotas de colisão com tuas ânsias e a minha solidão.
Te espero administradora de luzes,
proprietária de jardins do prazer enigmático
com diabruras universais.
Faço plantão de acalanto
aos sem causa e sem sombra,
aos com arranhos e desesperos
senhores dos ásperos e perdidos,
que nadam no vazio das almas ocasionais.
Te quero morador de beira do rio
que brinca de vida e morte e depois reviver
cheio de ânsias por meu abraço querido
por meu formidável abraço de acalanto.
Te espero
amor
de minha vida,
te preciso:
espere
serei luz e música
na tua amanhã
que ainda vai acordar...