Fresta de Luz

Quantas vezes tomei a fila da tua dor

e arrumei nela meu pranto e cor.

Foram tantas que já nem sei contar.

Levei adornos, fitas de enlace,

levei até traços

revoando à janela da vida.

Entrei em festa,

balões e bolo nas mãos

e você entrou com a perda;

tentei de novo.

 

Entrei com a fresta

pra um pouco de luz entrar,

você se fez de lerdo,

encontro não deu.

 

Então me armei de coragem

e entrei mais uma vez:

com amor entrei

e você as portas abriu.

 

E agora estou aqui.

Com meu milagre, desejosa

que tuas mãos o percorram em toda sua cor.

 

Te faço marinheiro de meu estibordo,

e você encalha no vestal dos meus olhos em nada.

Nadamos de permeio de sal - igual aos cordos!

 

Nunca mais te deixo sozinho!

Nem te deixo ser fácil e corrediço -

não faço questão disso!

 

Quero me perder em teus dengos.

Me perco quantas vezes você quiser.

Faço festa de milagre e sigo o melhor

caminho do vento para em seus braços voltar

num escorrega que roda e até criança faz chorar...