Passagem de Dor
A palavra é sensível,
cheia de dor e lamentos.
Mas todos eles por amor.
O que ela deixa transparecer
é que o remetente entende,
em seu coração, que o choro,
a lamentação, a fuga,
a dúvida do destinatário
é que faz com que o caminho pare,
ande ou volte para trás.
No entanto, se fala de alguém
que deve "estar" para quem fala,
está - conhecedor tão íntimo
da realidade posta -,
sabendo que está falando de si.
De suas dúvidas, de seu choro,
de seu lamento, de suas fugas.
E esqueceu que a casa que habita
é tão sensível tanto quanto.
E, se é um coração habitado é porque,
no meu humilde entendimento
(não sou especialista no amor - amo),
está abraçando, acolhendo, amando.
Não vejo sentido em ficar apontando tudo
o que se faz para mostrar o nosso amor.
Quem é amado percebe, sabe e quem ama também.
Amor não se questiona e, veja,
quem escreve essa carta lamenta
que o destinatário questiona,
lamenta que o destinatário chora,
mas, sua carta o que é?
Está justamente questionando a tristeza,
a reflexão, o entendimento
que o outro teve do que viu, do que viveu -
da mesma forma que ele agora vive e compreende.
Perguntas pairam no ar entre esses dois corações:
por que um pede que o outro não olhe para trás
para não o ver desmoronar
se o outro desmoronou na frente dele
e ele não viu ou se viu fingiu não ter visto?
Por que um está sempre mal, sofrendo,
desmoronando (e todos tem esse direito
- se a gente pode falar assim)
e sempre fica bem, está feliz, forte, alegre
quando o outro faz um esforço
de não se deixar desmoronar
pelas circunstâncias e ficar sempre ao lado?
Afinal são dois em dois
ou são dois em um?
Se um tem medo de abraçar
não poderia pelo menos considerar
que o outro sente a mesma coisa?
Que não levanta da cadeira
por que tem medo de ser,
mais uma vez,
empurrado para longe?
Aí a memória do passado entra.
As experiências com o passado
podem pesar e o medo de ser
novamente empurrado para longe
faz com que quem já sofreu,
deixe a iniciativa para o outro tomar.
Sei lá.
Não sei avaliar.
Só sei amar.