Palco de Nudez
Às vezes eu tenho ânsias de não sentir nada,
de mergulhar no meu vazio e nele me abrigar.
Eu moraria no meu silêncio e me entregaria
aos seus ramos e texturas para que fizesse em mim
crateras profundas para que eu pudesse
guardar o coração que sempre se vai
ao encontro as pedras e espumas,
de um lado gemendo a dor do baque
e de outro buscando nas águas que dela deslizam,
na espuma do mar o emplasto que amaina a dor.
A dor de amor é latente e arde.
Sou artista de minha própria vida
e não fecho mais as cortinas de meu palco
para dar a quem precisa o conforto
de um dia pisar no teatro da vida
e poder fazer parte de um milagre de luz
que, se não desperta paixões,
cala fundo em mim o mistério
e a dor que o ato seguinte vai me dar
e o Sol não quer me dizer...
Não existem camarins, nem portas fechadas
nem corredores escuros a se percorrer até o palco.
Não há ensaios, não tem disfarces,
nem mesmo há... tempo para se vestir...