Hoje descobri que
não sou ouro nem prata,
por isso não tenho uma chave
para entrar no espaço do Sol.
Não recebo mais o meu pão diário,
meu pão de hoje.
Só lamento! Que tristeza.
Me sobram um yogurte natural,
sem conservantes, sem corantes...
Vou morrer com duas migalhas diárias...
Já morri.
Sou um toco seco e morto, só raízes.
Mas não quero mais ter crises de choro.
Eu fui feita pra só sorrir.
Amo estar aqui, mas minhas raízes
estão deixando a terra.
Querem morar no céu.
Descobri uma trilha.
Nela estou agora.
Sou voluntária do amor
e é um alívio ver um cantinho
em meio a floresta
aos fundos do lugar
onde pássaros e aprendizes
comem seu alpiste.
Também aqui, o homem
deixou sua pegada destrutiva.
Mas estou aqui, no meio da trilha.
Não sigo só. O vinho me abraça
sem medo dos meus espinhos.
Ele tem raízes fortes.
Suporta tempestades.
Eu já não suporto tantas tempestades,
acho que as raízes estão danificadas.
O Sol? Brilha por cima da Ponta do Araçá.
Também seguiu por uma trilha
que não é a mesma minha.
Minha trilha é minha, é quem eu sou;
minha trilha é de flores
e folhas secas caídas ao chão,
raízes à flor da pele.
Não há beleza numa raiz morta e ferida.
Não dá nem pra um poema escrever.
Mas... eu escrevo, eu escrevo, eu escrevo...
eu.. nós... escrevo... escrevo...
Ao longo do caminho,
o farfalhar das folhas,
o colorido das flores,
a delicadeza dos pássaros,
tudo pode ser visível
ou invisível.
Sempre tem
um coração de amor
no meu café,
para que eu saiba
e nunca esqueça
como sou por ele amada.
é o que visível é.
Mas, meu ipê morreu,
morreu meu sombreiro,
meu pinheiro alemão,
meu velho Jerivá,
está condenado.
Já o ipê do vizinho ao lado,
que fica logo atrás de mim,
está cacheado de flores e frutos.
Ele tem ninguém para frutificar,
eu não tenho.
Por isso, o jardim dele
é bem visível, brilhoso, lustroso,
Dourado de lindezas.
Eu olho e não acredito,
meu jardim despedaçado
e o dele, assim, assim,
todo vestido de flor
todo enfeitado
e... vazio...