Melô alambicado
Eu só queria um canal
Coisa e tal
Pra beber poesia
Com uns amigos camaradas...
Lembrar da rapazeada
Que rala na boemia do clube
Pra não morrer de tédio
Ou virar desencanto!
Eu só queria um dia sem pranto
E sentar naquele botequim
Sem falar de coisa ruim
Ou me preocupar com a conta da luz.
Só queria viver sem a cruz
Da necessidade
E cantar as verdades de cá,
Desse coração de cordas gastas,
De dizer que aqui me falta
Inspiração pra poesia...
Só queria um canal
Coisa e tal...
De ter inspiração no otimismo,
Fazer versos sem pessimismo,
E consertar emoções
Que já nem desabrocham mais.
Eu me tornei brocha,
Ando meio cabisbaixo
Com esse mundo desvairado,
Estou entediado,
Um diabo de dentro de mim...
Estou por um fio de desgosto
Porque não amo o outro
Como tenho amor por mim...
E minha poesia fica azeda
Faltando a delicadeza
Da garapa de você que nem me enxerga
Nos olhos...
Tudo isso me comove
E nem sei o que dizer...
Vai que eu faça uma poesia
E lhe convide pra beber.
Ando no modelo de retrô,
Não tenho inspiração
Nem pra sentir dor...
Se ao menos eu fingisse,
Gostasse de galhofa,
Talvez eu fizesse uma farofa
De boas intenções
Só pra lhe agradar...
Mas meu agrado
De nada vale
Quando sinto a maldade
Sofrida por nosso povo...
Sabe, amigo moço...
Não estou nos melhores dias...
Eu só queria beber poesia
Porque a vida não me basta!
Senta aqui
Desse outro lado,
Eu já pedi um caldo de cana
Pra gente começar...
Eu só queria um canavial
Pra gente se encharcar.
Pronto pra começar?
Pois vamos beber poesia
Até a alma se embebedar...
Marcus Vinicius