Caminhada

 

Saí de manhã pra uma caminhada

Minh'alma se encheu de radiante alegria

Ouvindo o cantar da passarinhada

Qual orquestra que toca em total harmonia

O sanhaço a batuta trazia na mão

Maestro que rege e que também canta

Evidente é seu dom, sua vocação

Sublime canção que ao mundo encanta

O sabiá com seu canto alvissareiro

Põe-se majestoso, ostenta beleza

Conta a história do amor verdadeiro

De um mero plebeu com a jovem princesa

Que deixa o reinado, desveste a coroa

E segue o amado com convicção

Enfrentam o gelo e a fina garoa

Unidos de alma, não só de emoção

Permanecem juntos no gozo e na dor

Nos dias de muito e na carestia

Pois neles reside o fogo do amor

E nem maus momentos a chama esfria

Então o maestro a batuta levanta

Faz o movimento chamando um cantor

O canário se ajeita, prepara a garganta

Seguirá contando a história de amor

A princesa e o plebeu seguem na estrada

Da vida recebem mais um galardão

Virá um bebê pra alegrar a morada

O pai já escuta o som do coração

Três meses mais tarde o plebeu adoece

E a vida pra eles se torna mais dura

O amor da princesa em nada arrefece

Pois esse amor é a energia mais pura

A agrura prossegue o caminho cruel

E o homem definha dia após dia

O doce da vida transforma-se em fel

E o canário canta a melancolia

À beira da morte o plebeu determina

Morrer eu não vou pois tenho esperança

Então cerra os olhos e se imagina

De volta à terra onde fora criança

Acontece que ele era na verdade

O filho do rei de um reino vizinho

Que saiu de casa em tenra idade

Pois queria tudo conseguir sozinho

O sanhaço a batuta de novo levanta

E faz um aceno para o coleiro

Agora a história é ele que conta

Unindo-se às notas do grou bandoleiro

Com a força que ainda restava no corpo

O plebeu retorna a sua terra natal

Decidiu que não seria um homem morto

Até que seu filho nascesse afinal

O rei e a rainha ao vê-lo choraram

Há muito não viam seu filho amado

Os médicos todos do reino chegaram

E em não muito tempo ele estava curado

No nono mês, então, nasce a criança

Filha de um príncipe e uma princesa

Com o reino fez o pai nova aliança

E reassumiu seu lugar na nobreza

O coleiro findou a bela história

Enquanto eu findava a caminhada

Levarei pra sempre em minha memória

A bela sinfonia da passarinhada

Netokof
Enviado por Netokof em 02/11/2022
Reeditado em 02/11/2022
Código do texto: T7641049
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