Se volta a sazão antiga
(I)
Se volta a sazão antiga,
Natura, com fauna e cia,
Na treita de estranha fada
Me volta a canção vazia,
De fronte à paixão alada
Que voa contra aura amiga:
Luar cujo amor me obriga
Querer quem é meu castigo.
(II)
Alhures perfaz perigo
E pouco mantém o brio
(Conforme prediz o grado)
O que detrai meu estio
Com seu jeito mal letrado
Versado onde não persigo
Em Campos, meu plano abrigo,
Eivado por tanta intriga.
(III)
Madame, jamais condiga
O dito da gente impia
Que palra na feita azada
De mim da escureza ao dia,
Sabença mantenha atada:
Que ainda não sendo amiga
Resguardo cobiça antiga
Sonhando ser drudo e amigo.
(IV)
Apenas sei meu perigo
Agora que sinto o fio
Cortando em langor cruzado
Co'adaga do amor vazio;
Conforme os bons fui frisado
Da pena e do mor castigo
De amar quem me impõe jazigo
Coberto de verde urtiga.
(V)
Malgrado a pior fadiga,
A dor do talante e via
Terei austereza honrada
Pensando que amor varia
Em golpes de cada a cada,
Guardando a mercê amiga,
Mas negue a maldosa intriga
Que faz o vilão comigo.
(VI)
Madame, o que faz comigo?
Jamais, faça ardor ou frio,
Ousou me salvar em grado
Do mal que me faz vazio;
Se agora me quer sanado,
Perfaça no meu jazigo
Feitiço de amor antigo
Co'o beijo de doce amiga.
(Tornada)
Canção, corra à minha amada
Em aura de amor e diga
Que pelo versar me instiga
A ser melhor drudo e amigo.