Hipócrita Divino XVI: Diálogo com o Altíssimo

Em um momento específico,

Me vi onde sempre fico,

Onde o Sol Negro ilumina,

Toda a minha sina.

Fardado com armadura negra e carmesim,

Por todo um deserto sem fim,

Nos túmulos de corpos mortais,

Que de restos não há mais.

Questionei se é eterno ou um adeus demorado,

O que seria uma pergunta retórica,

Houve o som de um Pai Amado,

Numa resposta eufórica.

"Não há adeus para Deus,

Oh, último dos seus,

Eis que vê somente dor,

Porque não deixá-las no Senhor?"

Logo respondi, sob joelhos na areia,

"Se sou semente única da fruteira,

Porque o Senhor me semeia?,

Porventura seria minha miséria uma ceia?".

Pensei ter sido rude,

Nem desculpar eu pude,

O Senhor invadia meu coração,

Não havia pútrida emoção".

"Estando sob seus dias,

Não se irradias?

É benção o correr em tuas veias,

É benção tomares ceias".

"Não aguento tal aflição,

Consegues o Altíssimo ver meu coração,

Não me deixe desistir",

Eu respondi.

"Como lágrimas ecoam sob o chão,

O grito silenciado no pulmão,

Te mostro agora,

O sentimento de quem não foi embora".

Num vislumbre brilhoso,

Mesmo que um esboço,

A areia havia sumido,

Estou sendo punido?

Primeiramente montes saudosos,

Uma fogueira como nos nossos,

Queimava fogo apaixonado,

Mais intenso comigo ao lado.

Logo após, florestas de eucalipto,

Como nossos antigos ritos,

O ar dava para respirar,

O vento agradava o ouvido.

Seguidamente, só havia água nos pés,

Espelho dos céus ao chão molhado,

Cristalino e claro,

Um coração acalorado.

Por fim, uma casa familiar,

Numa rua familiar,

De saudade familiar,

Talvez, só talvez,

Antigo lar.

Voltando ao deserto pálido,

Sob sentimento cálido,

Mal tinha forças para respirar,

Deus ei de me sentenciar.

"Todos são vislumbres de interiores,

Daqueles amigos e antigos amores,

Em verdade não há vida carnal,

O espírito ainda sonha,

Como adorador mortal".

"Podem desta vida ter ido,

Mas o sonho permaneceu,

Alegra-te pois, ainda vive o Meu,

Àquele que a morte venceu".

"Não pense que o silêncio é ausência,

Nem que a vida é penitência,

Tudo é baseado em amor,

As vezes ocorre mero dessabor".

Hoje Deus foi humanizado em meu interior,

Pois o intendi em sentimento,

Não devo ver só lamento,

Deus não poupou seu único Filho Salvador,

E Ele não lembra de dor.