Sepulcros de Amor
Ao anoitecer o poeta senta a mesa com seu charuto aceso, vinho seco e caneta bico de pena. Ao fundo, ele guarda seus últimos resquícios de um amor mal correspondido. Quadros reluzentes em ouro imperial.
Em meio a degustação de um vinho mal conservado, ele reserva seus versos amargurados, presos em um coração dilacerado pelos cortes profundos.
O poeta não chora, somente escreve seus versos em papéis recicláveis, pegos em lixeiras vazias de significados do que é a vida de verdade. O poeta esqueceu o jeito certo de amar. Seu coração sepulcra dor.
As noites são frias como seu olhar ao quadro no fundo de sua parede sem reboco. Suas idas e vindas ao cemitério local, guardam mistérios dos versos entregues ao coveiro.
Em meio ao caos, o poeta não vive sem as dores que deixastes para trás em cada amor perdido. O poeta escreve seus poemas sepulcrais para não esquecer que um dia, seu coração pertenceu a quem merecia.
Hoje, acostumado com seus sepulcros de amores mal resolvidos, ele bebe seu vinho seco, fuma seu chato e escreve em sua caneta os versos que dão sentido à vida.
Os amores são sempre sepulcrais, quando os prendemos em meio ao vôo livre das paixões. Hoje, o poeta vive muito bem com seus amores sepulcrais em meio a versos presos em cemitérios da vida.