Miçangas (Para Patrícia Lettiere)
Você me mostra
Criar é doar, é aceno
É um pingente nostálgico derrotando buracos negros
Extravasando sempre, em partos e prantos
Deixando-se curar calos e silêncios
É ser esteira de missões, crenças e confrontos
É um combater gaiolas sendo desafio e confiança
Ser um elástico entre solidão e coletividade
Reconhecendo sedas e moletons
É pegar um pedacinho da flama olímpica
Bailar no yin-yang e aprender a varrer e refletir
Carregando sedimentos benígnos
É ter a mão e a alma inconspurcadas
Conquistando originalidade com todo o instinto
Fugindo dos descampados
É ter o poder de se afogar e reviver
Ter um casamento com o Além
Existir entre nossas sobrancelhas e pés
Incorporar os milésimos bombeados pelo coração
Se permitir enluarar em jardins de sálvia
Construindo o papel que não rasga e metal que não amassa
Segure pois a flor que fluoresce na neblina
Seja locomotiva sobre trilhos alados
E sempre encontrará uma estalagem aberta
Refresco e coberta para estar vigilante e dormir
Deixando a comporta se abrir sem economias ou terror de se extinguir
E se lançar nas feiras andarilhas que permeiam as metrópoles
Tornando a si umas obras também
Aquelas que se veem quando olham para cima
E outras que se ouvem diante das quedas livres
Se esparramando vitoriosas entre os quatro elementos
E finalmente soprando a vela postada solene sobre a torta
Prontas para, sem falhas, receberem realidades e alegrias