Chama
Acima do pó,
Abaixo dos céus,
Me prende com nó,
Nós de amor Seus.
Sob laço que não quebra,
Aliança que não desfaz,
Há paz mesmo na guerra,
Paz que só Ele traz.
Tuas mãos gentis,
Intercedem por rostos senis,
Jovens de corpo, velhos de alma,
Ansiosos por calma.
A areia é grão do deserto,
De certo sou grão do mundo,
Humano moribundo,
Tenho intriga de ir mais fundo.
Quando o Sol do meio dia vira fogaréu,
Vem o Senhor e rasga o véu,
Dai-me forças para pisar descalço,
Dando graças por estes calos.
Os pés ardem,
O calor são dragonas aos ombros,
Carregando fardos nos lombos,
Cada passo deixando o que somos.
O sol se põe,
Como o dia se opõe,
Em um céu tom pastel,
Vai-se embora o fel.
Na mordida da noite álgida,
Cristalina areia sob lua pálida,
Caminho com luz em mãos,
Preenchendo-me os vãos.
Quando o deserto castiga,
Consumido em fadiga,
A fé me instiga,
Deus em mim habita.
A esperança prevalece,
A dúvida esvaece,
Difícil o caminhar é,
Sobrevivo pela fé,
E creio que...
Sou chama!
Corpo nu no frio do deserto,
Recusando-se a apagar,
Pago por um mundo inteiro,
O preço de Teu apreço.
Sou chama!
Pira funerária,
Labaredas que comemora,
A morte do meu eu pecador.
Sou chama!
Lâmpada para póstumos pecadores,
Que renderam seus amores,
Dos ídolos escarnecedores.
Sou chama!
Tocha contra a mordida das trevas,
Mais quente que o fogo fátuo,
Não se apaga com águas perversas.
Sou chama!
Incêndio contra madeira ritualística,
Transformo carvão em ouro,
Nego a besta de couro.
Sou chama!
Quente como mirra,
Derreto a crença anterior,
Nasce um adorador.
Frio como o Sol,
Quente como fogo santo,
Cobre-me com teu manto,
Escuta o meu canto.
Far-me-ei servo de tua labareda,
Alabarda contra a criatura trapaceira,
A noite não me assusta mais,
Sou fogueira que não apaga jamais.
Vou além de célsius e fahrenheit,
Te seguir foi meu deleite,
Eis aqui minha adoração,
Escuta o meu coração.