No Fim
No fim, ela nem parecia mais com ela mesma
Era uma mente confusa
Aprisionada em uma carcaça apodrecendo
Jogada sob os lençóis
Um pedaço da história, da memória
Foi apagada
E no fim, aquele corpo
Não tinha mais uma alma
A verdade é que o silêncio me fez pensar
Se pudesse escolher, talvez ela nem voltaria
No fim, ela nem se lembrava mais de mim
E sorria como uma criança, desbravando o mundo
No fim, ela era uma folha em branco
Marcada de rugas e esculpida de arrependimentos
Pensamentos turvos, lapsos de tempo
Um dia, ela me disse ter trinta
No outro, ela me falava de estranhos
Minutos significavam anos
No fim, a comida não tinha mais sabor
O céu não tinha cor
E a poeira encobria as palavras
No fim, ela quase nem falava
E se falava, não sabia onde estava
E se não sabia onde estava, desabava de chorar
Aí levantava a cabeça, me encarava e perguntava
Quem eu vinha visitar
No fim, não importava o que tinha feito
Nada mais pra se desculpar
E eu gostava de imaginar que ela fingia
Que metade do tempo, até era conveniente esquecer
Como se nunca soubesse o que teve
Nunca seria doloroso perder