Se me deixasse a ciência

(I)

Se me deixasse a ciência

Do conhecer natural,

Do sentido bom e mal,

E vagasse na carência

Sem galanteio ou esmero,

Por veraz, enquanto tal,

Não veria o desespero,

Porque vou aflito e agônico,

Das boas coblas afônico.

(II)

Despertado ou em dormência,

Vou contra a maré fatal

Oscilando em fraca nau,

Pois forte é minha dolência

E não ligo p'ra exaspero,

P'ra verdor ou temporal,

Se tenho sorte ou esmero,

Porque vou aflito e agônico,

Das boas coblas afônico.

(III)

Em grande erro e desistência

Anseio co'o meu final

Que vento norte ou austral

Pouco me rege influência,

E em mesura ou exagero

Mantenho o olhar zenital

Contra a Lua e o desespero

Porque vou aflito e agônico,

Das boas coblas afônico.

(IV)

Não sei da minha existência,

Pois adormeço ao real

E desperto em plano astral,

Lá vou traído em ciência

Como alvo em troça de Pero,

Em descrença e em alto grau

Sou penado em destempero,

Porque vou aflito e agônico,

Das boas coblas afônico.

(V)

Quase faço penitência

E viro homem clerical

Na paróquia de Areal,

Se não fosse a renitência

Que me puxa a outro ser, pero,

De olhar claro e natural

Donde morro em entrevero

Porque vou aflito e agônico,

Das boas coblas afônico.

De Lágrimas
Enviado por De Lágrimas em 17/09/2022
Código do texto: T7608293
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