Escrita

Escrever com a fúria de um pianista que frente ao seu piano desmiuça as notas musicais.

Escrever com a tristeza e a ternura de um poeta que em sua pequenez diante da imensidão do céu estrelado capta o brilho e o faz jorrar sobre um papel.

Gritar com a escrita sobre aquilo que reverbera depois de uma tarde alaranjada e sem continuidade.

Embebedar as memórias no prenúncio da noite escura, pedir com delicadeza para que silenciem um instante, só um instante.

Cantar o amor e seus laços, sorrir o bilhete em que se lê a pronúncia de saudade empoeirada nos sussurros das gavetas.

Delinear com suavidade os bordes das letras com ganas de quem respira para viver, escutar um tanto embasbacado os ruídos das línguas que não se tocam.

Lambuzar de lua, florir nas chuvas e deixar que se estremeça em mim tua voz e o seu nome até que eu deixe de ver o reflexo do tempo através da vidraça fria da janela.