"Palhaço" (obrigado, Egberto Gismonti... mil vezes, obrigado!)
"Ela tinha a boca do coringa...
A pele mais cheirosa que podia-se imaginar...
E calava...
Calava como a pena que voava triste, pelos redemoinhos do vento quente que vinha do mar...
Ainda que as minhas vontades fossem maiores que a lua... e que todas as pirâmides do Egito...
Ela calava, sim...
E mantinha o poema guardado... dobrado num guardanapo grosso, feito envelope...
Talvez a minha insensatez não acusasse a distância... as dificuldades e improváveis cerimônias...
Ou meus vinhos me dessem coragem...
De "escrever tonterias" como se a nudez da moça fosse habitué na minha cama... não sei...
Porque era o que eu queria... olhå-la nua na minha cama enquanto dormia...
Ela era linda... eu, sonhador... como fui a vida toda...
Mistura perfeita para o caos e desordem...
Mas... e daí?
O que é a vida senão isso?
Majoritariamente, caos... a desordem a gente provoca...
Ela tinha sim a boca do coringa... e um quê de perfeição que me arrastava... e me mexia como se eu vivesse molhado, alimentado e feliz...e eu era tão somente isso mesmo... um homem feliz...
Que imaginava vulcões... e vivia só numa chácara feita pra mim...
Com pinheiros, fantasmas e cavalos....
Que abria vinhos... digitava letras e sorria...
O riso fácil da minha boca nas "bocas todas" dela...
E mal me cabiam as inverdades...
Porque todo aquele aroma... o cheiro dela... era a luz que me acordava, pela fresta perfeita...
Ela tinha a boca do coringa... e a beleza mais indecentemente maravilhosa... quase um suplicio... um devaneio impróprio...
Que meu olhos cansados conheceram...
Mas ela calava... e eu... sonhava...
Enquanto ainda podia..."