Estações que vêm e vão
(I)
Estações que vêm e vão,
Da primavera ao verão,
Outono ao inverno algente,
Passam-se e me deixam só
Na campina, chova ou vente,
Onde chilreia ao cipó
Rouxinol que o mesmo sente.
(II)
Pois não me vale canção,
Pedido, choro, oração;
Mas se eu encantasse a gente
Por mim giraria a mó
Co'a magia maldizente
Que transformaria em pó
Os meus rivais pretendentes.
(III)
Mas me envolve em negridão,
Lua com seu coração,
E a coruja me diz, crente,
Que se fôsseis de filó,
Tecido que é transparente,
Mais fácil seria o nó
De vosso amor que é dolente.
(IV)
Mas é tola a indiscrição
De quem não entende a ação
De amante em paixão doente,
Por isso vou mudo e só
Co'o desejo em minha mente
Da Lua, que não me é pró
E que nem piedade sente.
(V)
As vias ao coração
Dama, dai-me a direção,
Dai-me, mesmo falsamente,
Que eu me afaste, como Ló,
Do mal que sou tão temente,
Da cidade que hoje é pó
E pura ruína ardente.
(VI)
Que farei eu? Sofro ao chão
Bicando de grão em grão,
Que, ajoelhado ao poente,
Levanto às mãos pela dó,
Mas vós agis tão vilmente
Que se eu fosse um faraó
Faria o erro igualmente.
(Envoi)
Por mim, canção, vá em frente
E diga uma coisa só:
Que dela preciso urgente.