Fênix

De repente da solidão fez-se a vontade,

Uma vontade louca de amar.

E da minha boca que cala

O que meu coração não mente

Que só por medo esconde e sente,

Fez-se o riso, fez-se o brilho do olhar voltar.

De repente do lamento fez-se a luz,

Chama mais que divina,

Uma centelha pequenina

A brotar das minhas cinzas

Renascendo a ave-menina.

De repente do pavor fez-se o alívio

Como plumas a brincar no vento

E das lágrimas fez-se o colírio

Que dos olhos desfez o sofrimento.

De repente do breu fez-se a constelação

E do retiro fez-se o paraíso

Que do momento certo fez-se a emoção

E dos mil rancores fez-se a paixão.

De repente da inércia fez-se o movimento

E das trevas fez-se o colorido,

Da tristeza fez-se o renascimento

Que só com o amor faz sentido.

De repente, muito mais que de repente,

Fez-se a ave dourada

A renascer do quase nada,

Gota de felicidade vertente

De uma entranha minada.

Perdoe-me, poeta solene!

De repente, tudo surge novamente.

De repente, tudo mais que de repente.