Amor
Nem sempre a semente
Brota na pedra.
Nem sempre a flor supera a escuridão.
Nem sempre a vida
Destila mágoas.
Mas o amor
É a chuva que banha
O germe de esperança.
Molha a terra,
A poeira que descansa,
Água bebida como um trago
Que arranha a garganta,
Esculpe a rocha
Com seu cinzel
Uma porta entreaberta para o céu.
Cúmplice do amor,
Um vento a favor balança.
Embala o pó com seu canto
Cobrindo a fenda e a semente,
Corte abençoado,
Berço terreno de esperança.
O amor é gota de sol
Quase impossível
No meio da escura dor
Que faz da semente uma flor,
Uma ágil bailarina
Que se contorce,
Aventura-se,
No intento de espiar lá fora
O presente mais bonito do Criador:
A cor do dia!
Melancólico como uma garoa
É o meu lamento.
Maior do que a solidão
Que me invade agora
É o amor que ainda me incorpora.
Mas nas margens de nossa vida
Mágoas, bolhas amargas,
Entorpecem-nos.
O narcótico capaz de me devorar,
Paralisa-me.
Entre flor, vida, semente e lamentos,
Meu coração desconsola,
Vira bicho aflito,
Corta o céu com gemido,
E o teu, deixa um vácuo,
Grita e foge arisco.
Vem parir,
Desabrochar a flor,
Secar minha dor,
Rompendo o silêncio da solidão que me atormenta.
E ouvir falar de nós, de tudo, de amor!
Vem libertar do meu peito
Teu sorriso cativo
Que teu desprezo estanca,
Não diz,
Não grita o que tem a dizer!
Mata a sede insana
Deste meu chão semeado
Pois eu preciso viver!
Molha minha semente
Mesmo com mágoas ácidas
Para que eu possa entender e ouvir novamente o meu coração bater!
O amor é capaz de aparar arestas,
Fazer de preconceitos conceitos aceitos,
Criar pontes nirvanescas,
Destruir barreiras,
Desatar nós,
Ultrapassar limites,
É capaz de tudo num ato de rebeldia.