DELIRIO

Nos pedaços que me restam, conto a história de meu drama

Episódios repetidos que a cada cena evidenciam fatos novos

Morador dos ares frios, viajante na solidão de minha cama

Sou um velho compêndio que se escreve no chorar de meus olhos!

A nuvem escura que em vão projeta sombra contra o sol

A peneira desgastada que absorve os restos indegustáveis da paixão

Transe da sobriedade estulta, que me inculta dilacerado em seu rol

Bulimia humana incontrolada que devora o que indeseja o coração!

Rastros de meus passos inertes, asas sou de meu anjo pecador

Notas dissonantes que agradam as harpas da mudez que lhes tocam

Sou nesse meu sono, a insônia que vigia os botões do reator

Pra detonar as explosões de todas as loucuras que me invocam!

Gritos em mim mesmo, eis as grades que me prendem nesse amor

Calmo em delirio, sou o teste das vacinas de uma cura vã

Pintado sem tuas tintas, sou o quadro inexpressivo de odiosa cor

Tocado por teus beijos, sou criança, adormecido em berço de lã!

Reinaldo Ribeiro
Enviado por Reinaldo Ribeiro em 30/11/2007
Reeditado em 02/01/2012
Código do texto: T759040
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