Poema remorso
Não, a vida não para,
Não perde o vento,
Não quer saber
Se você vem ou fica.
A vida não tem preguiça
Nem medo de arriscar.
Nada mais é como antes,
Tudo vai se moldando aos novos tempos:
O chinelão de couro,
O caçuá...
O ioiô, a roda gigante,
O desejo de amar.
O pirão mexido,
A goiabada,
A água gelada
E você só reclamando das mudanças do lugar?
Passou a lamparina,
A carroça de boi, o açoite,
A casa de taipa,
O homem com seu poder de mandar.
Já não pode a gaiola prendendo o belo da vida
Nem a sua ignorância do próprio dente arrancar.
O tempo é outro,
A vida assanhou tudo,
Até os rios deixaram de existir.
Vai dizer que não gosta:
Da água encanada, o ar resfriado,
Do carro eletrônico,
Das redes sociais?
Não gosta das cidades,
Da lasanha do domingo,
Todo mundo assistindo a vida passar na tevê?
Coloque a língua dentro da boca,
Olhe para dentro de si
E comece a pensar:
Quem é você?
Como está contribuindo para o seu lugar?
É preciso cuidar do lixo,
Plantar outras árvores,
Evitar desperdício!
Meu amigo, deixa disso,
A vida não pode parar.
O homem que inventou a roda,
Inventou a bala,
Inventou a moda,
Inventou a mídia,
Fez você calar...
O homem que inventou o fogo,
Inventou o gozo,
Engabelou nós todos
E o que vamos fazer?
Desinventar
É tarefa difícil,
Melhor superar o suplício
E viver
Do jeito que ainda é possível.