MEMÓRIAS DE UMA SEXAGENÁRIA NÃO CORRESPONDIDA

Sempre usou meu coração...

Será que sentes por tê-lo perdido?

Desfeitas e mais desfeitas foram feitas à minha paixão!

Agora, restam memórias e lendas de um amor incorrespondido...

Jamais esquecerei o dia de tua partida...

Tuas vestes alvas ofuscavam meus olhos no sol das nove

contrastavam a escuridão que tomava conta de meu coração,

Repleto de esperanças e sonhos malsucedidos.

O caxangá ainda guardo na cômoda do quarto...

As más línguas dizem que é mal agouro

e que por isso sou mal maridada...

é que ninguém entende o que sente uma mulher do interior apaixonada...

Mesmo que o tempo passe

e a velhice em minha pele habite

o coração permanece jovem

e suas lembranças fazem com que ele grite...

de desespero, de dor, de prazer , de saudade.

Vivo com os cacos de um amor quebrado

jogados aos ventos os pedaços...

dilacerados, cuspidos, amassados.

Mas sigo e tento juntar cada parte...

e, nesse meu descompasso, colo estilhaços desse passado.

De lendas e memórias de um amor perdido

Na dor me encontrei...

Na escuridão me reinventei...

Nas minhas lágrimas me afoguei...

Em minh’alma tatuei teu nome...

E na vida nunca encontrei outro homem

Que me levasse aos extremos humanos do amor e da dor.

Agora sou uma sexagenária que em meio às montanhas de cartas não correspondidas

descanso em meu leito de solidão...

alimento-me dos beijos dados em frente à ponte branca...

dos seus abraços nas sessões do Cine Palácio...

da serenata que a mim foi dedicada no coreto da Praça da Cavalhada...

agora sigo humilhada...

frustrada...

ludibriada...

embriagada de memórias.