FEITO ÁGUA E FOGO 26 💠

Observa o corpo feito de água

Que tanto clamo dissidente

Incontinente percebi que o resto é límpido oceano

Mas não tu

Ser feito de fluidez no espaço

Olhei a minha face, refletida na lâmina d'água

À tona dos sonhos, flutuava

No fundo de lodo os anseios se afogavam, num último fôlego presente na matéria que gritava

Coração de gelo recoberto de neve

Teu andar passava circundando a ilha, onde um naufrágo desesperado esperava por socorro

E teu olhar de flama já ia em teus olhos lhe ateando fogo

E paixão ardente

Há na terra um vento que faz as ondas e ao mesmo tempo atiça a chama

Mas um vento frio, geada, de assombro

Ao mesmo tempo espalhando brasas incandescentes

Um deslumbramento nos calava a voz

E a corrente levava tudo, tudo de repente

Deixando presos apenas desafetos e a noite em suas vertentes

O barulho da cachoeira encantava e a noite que chegava de barulhos despertava

Ali uma parte de mim, de alma e de essência, ficou presa nos torvelinhos que a agua espiralava

Tua correnteza em lágrima me levava, mas ao mesmo tempo me prendia em sua rede

Feito peixe de jade caindo no anzol que cerceava

Do mesmo modo me matando a sede

Talvez uma parte de mim imigrasse feito saudade que inunda a gente

A outra parte de mim navegava e se ausenciava súbita e repentinamente

Enfim a solidão lembrava de meu corpo pertencer ao continente

Também o teu amor banhava, dia a dia, cada dia ferozmente

Ficamos nesse romance tão confuso, que fomos vistos andando feitos fantasmas na flor d'água ao sabor do relento

Com as mãos dadas entrelaçadas desfrutando a satisfação de termos um ao outro

Caminhando contra tudo e contra o tempo

As gaivotas estridentes sobre as rochas e o teu mar que me quebrantava desfazendo em cada onda tudo que eu era por dentro

A vista, na enseada cumpri meu voto e cantei uma canção risada que se mesclava e assobiava juntamente com o vento

A maré subiu e eu me banhava na tua doce água e sucumbia junto com os sentimentos que emanava de ti, flor-de-água de cabelos soltos a flutuar no vento

Teu olhar transformou-se em fonte

A tempestade presa em sua voz desaguou e aclararam-se todos os meus pensamentos

De te amar feito fogo que queima

Incendiando por dentro

E feito a água que sacia a sede

Inundando meus momentos