HORA PÚRPURA

HORA PÚRPURA

De bordos vermelhos se recobre

Todo o chão da alameda onde o outono

Colore de tons púrpura o adro nobre,

Pondo em tela um jardim anos sem dono.

Já minh'alma captiva se descobre

Nas folhas secas, rútilo abandono.

Toda já de flores adornada,

Colore a flamboaiã também o chão.

Tendo uma seguindo a outra, enfileirada,

Se alcatifa um arrás de coroação,

Que cobre belamente toda a estrada

Ladeada pl'a florada em profusão.

Ao largo, um poente sobre as serras

Muda todo em lilases o ocidente

Enquanto, desvalido entre guerras,

Um rouxinol cantando-me eloquente

Pela beleza excelsa d'estas terras,

Eu m'entrego ao momento tão-somente.

Forte farfalha o vento pelas copas

Que em redemoinho agita-lhes as folhas.

Mas, aqui e acolá, rubras cachopas

D'onde a saúva ávida de escolhas...!

Mas mesmo o formigueiro e suas tropas

Pouco faz contra púrpuras desfolhas...

Mais longe segue em fuga na alameda

O olhar na claridade vesperal...

Eu paro enternecido face à queda

Da folha a desprender-se em espiral,

Pois, tapete vermelho m'envereda

Pelas mais ricas horas, afinal.

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Se comigo estivesses, entretanto,

Por toda essa beleza sublimada,

Eu me consumiria ao teu encanto

A ver-te o entardecer pela mirada

Luzir também em flamas de acalanto

N'uma ternura enfim compartilhada.

Porque tanto mais bela é a beleza

Quando pelo cristal do amor é vista!

E mais garrida a cor na Natureza

Se mirada enamorada lh'a conquista!

Amor, nos transformando com agudeza...

Mas com que belas artes? Com que artista?!

Tu, minha linda. Tu, somente tu!

Só tua companhia luminosa

Faz artístico o belo nu e cru.

Se me olhas passional e extremosa:

Cores de maravilhas ao olhar nu

Em gradiente de púrpuras ao rosa!

Se contigo estivesse, esse arrebol

Seria, além de belo, prazenteiro...

Qual lágrima de fogo, um rubro sol

Faria vermelhar o céu inteiro

Em teu olhar, sanguíneo tornassol,

Onde o gozo anuncia-se sendeiro.

Se contigo estivesse, essa alameda

Seria, além de bela, inesquecível...

Pois tapete de pétalas; vereda:

A teus mimosos pés o andar sensível

Onde, guiando cego, nos conceda

Amor enfim o encontro irreprimível.

Mas, como não estás, a solidão

Questiona da beleza seu sentido.

Sem ti, o olhar se perde sem razão

E o entardecer encara comovido:

Se contigo estivesse, essa visão

Em amor viveria enternecido.

Betim – 13 05 2019