Tanto vosso amor me muda
(I)
Tanto vosso amor me muda
E me dá graça e loucura
Que no asfalto sinto flor
E no cinza vejo arruda
Entre prédios na pastura
Que a aura serve de dulçor
E meu poema de autoajuda.
(II)
Tolice vária me gruda
Que fenda parece lura
Adornada à folha e flor
Pela primavera miúda:
Carmim, o fulvo e verdura
São os presentes do amor,
Minha benesse sortuda.
(III)
Se ando de pele desnuda
Pelos pomares de alvura,
Pela noite até o alvor,
Entre a caliandra felpuda,
Sua flor será vestidura
Contra a fria aura e sua dor
E contra a fauna sanhuda.
(IV)
E o pardal de canção muda,
Por babel de grande altura,
De novo ao ramo é cantor
De sua canção bem graúda
Como bela ave em natura,
Visão dada pelo amor
E minha audição sortuda.
(V)
Por uma alegria aguda
Fui bem levado à loucura,
Que vejo no escuro albor,
No meu desejo a entreajuda
E no meu tédio a aventura
Minha e da Lua, onde for,
Benção grande e coisa miúda.
(VI)
Pela mente façanhuda
Que tudo me desnatura,
Que acho prazer no amargor,
Cançoneta em boca muda,
E em tal pena minha cura,
Em tristeza meu louvor
E em choro feição sisuda.
(Tornada)
Pois cresce minha ventura,
Virtude, mesura e honor.
Nisso a Lua bem me ajuda