O Primor de Minha Aldeia

(I)

O primor de minha aldeia,

A planície que eu cresci,

Joaquim, Cardoso Moreira,

Mora um mimo que não vi

Nas colinas de Oliveira;

Nem na cidade de Passos

Ouço o mesmo bem-te-vi

Que cá, onde canção faço

Até que me volte o abraço

Daquela que já senti.

(II)

Lá em São Pedro da Aldeia,

Uma estranha coisa eu vi

Coleiro de estima cheia,

Triste e sozinho, não cri

Que entoava paixão alheia

Mas que entoava seu fracasso

E ele esperava dali

Por venturoso pedaço,

Boa mercê? Erro crasso!

Certa semelhança eu vi.

(III)

No sol ou na lua cheia,

Ele cantava dali

Rumo à sumida coleira,

Frente e trás, aqui e ali,

Como a onda à noite ondeia,

Tão forte como firme aço,

Pelas histórias que li,

Na energia ou no cansaço,

Cantava, assim como faço,

Finalmente eu percebi.

(IV)

E numa segunda-feira,

Bem triste pelo que vi,

Volto a Cardoso Moreira

Em tristura, bem fremi,

A minha mente vagueia,

Caído estou em mau laço,

Se é certo o que percebi,

Se o coleiro eu contrafaço

Morto estou em falho passo,

Já que sente o que senti.

(V)

Pois finado vou, em má teia,

Tipo Tristão, como li,

Perdido estou se me odeia,

E se à toa eu escrevi,

Como lá ele gorjeia,

Um semelhante erro faço

Desse fim que não previ,

E se faço outro pedaço

Terei semblante à palhaço,

Tipo de quem aprendi.

(Tornada)

O que plantei, não colhi,

Do amor tirei o fracasso,

Cesar pode dar-me um braço

E bem ver o que não vi.

(Envoi)

Vá, canção, passo por passo,

Mostre à Lua o que senti.

Redondilha maior.

De Lágrimas
Enviado por De Lágrimas em 24/07/2022
Código do texto: T7567034
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