Erótico XXII
Viram-se, assim, sozinhos. As vozes eram uma algaraviada de sons sem nexo. A luz fraca vinha da rua. Se gritasse ninguém ouviria e não queria fugir. Parou o olhar nele, desceu devagar pela camisa aberta, imaginou o corpo, continuou a sugerir que podiam, silenciaram todas as palavras.
De repente, uma mão quadrada fincou os dedos no rosto, aproximou o negro dos olhos, forçou o beijo, alongou-se por toda a humidade da boca, percebeu a receptividade, arrancou os botões com violência, abraçou a nudez exposta e fez de braços e pernas uma cadeia.
Bateu uma e outra vez nas nádegas firmes, mordeu-lhe os lábios, vergaram-se encaixados nos cartões do armazém e e tomaram-se com fúria. Dor, arrepios, quentura e algum sangue no gozo. Depois, amolecidos, deixaram que a ternura ocupasse o lugar da determinação. O silêncio marcou a madrugada e entre eles só se ouvia o bater lento do coração.