Erótico XX
E o sonho era líquido, com muita ondulação quente, muita vontade do que parecia impossível possuir. Sede, inquietação, a imobilidade da ousadia cuidadosa, o medo da resposta, o medo do medo, a avidez retida, a febre, o suor a perlar a fronte, a cama estranha, a visão imaginada do paraíso adormecido, da outra parte acordada, ciente da minha e da sua necessidade, a nudez mal coberta, a fronteira de um lençol, o risco. Toco com o dedo as costas da mão e o eco é um conjunto de dedos aconchegados uns aos outros sob os meus, o raspar da pele aos gritos, o gemido do acordar no meio de um oásis de carne, de cheiros suaves e doces, da exaltação que se aceitou, a perda do cuidado, a voz rouca rasando o silêncio, o diálogo dos corpos ansiosos, a força, a sofreguidão, a imobilidade, a harmonia e o recomeço, a voz que nunca ouvimos, a paz a seguir a tudo o que foi forte, determinado e tremendo. O cheiro, o relaxe, a saída. O corredor vazio, o sentimento parado, a emoção mole, a minha cama.