Erótico XIX
Era uma vez um lobo. Enquanto escrevia o bicho travara-lhe a mão, premira-lhe de leve os dedos e olhara profundamente afastando-se depois para um canto da sala. Pouco antes havia rasado a boca na nuca de cabelos curtos sem dizer nada. Mais tarde, e sem que fosse pedido, veio o chá. Esperou o lobo pacientemente que o trabalho abrandasse, que o calor os fizesse aligeirar a roupa e atravessou-se no sofá afagando as próprias coxas por dentro dos calções largos. Os dedos, velozes, escreviam mas nas pausas os olhos contemplavam o sofá. A seguir, arrumadas as pastas e depois de uma breve ausência, voltou de calções curtos, sem sapatos, livre da roupa íntima e comentou: - Que calor. Tenho as mãos a arder, disse, estendendo-as ao lobo que as segurou e foi chupando, um a um, todos os dedos. Resvalaram para a carpete da sala e deram-se como se não houvesse mais mundo. Na mesa ficou frio o chá de jasmim.