Erótico XVII
Um dia a viagem. Olhei à volta e tudo dormia na cabina com pouca gente. Luz de silêncio, o tantã da carruagem a varar a noite, o corredor vazio e eu de pé sem lugar para sentar-me. Mesmo com os olhos afeitos à luz roxa do espaço não sabia quem assim dormia ao longo dos assentos, um de cada lado da cabina.
Empurrei os joelhos fletidos e deitei-me ao lado de quem não conhecia. Apoiei a mão na anca de quem lá estava para não resvalar pelo couro negro e acabar no chão. Sei que interrompi o sono de quem dormia e não consegui adormecer. A respiração entrecortada, a mão consentida, a leve pressão dos corpos, o abraço fremente, a semente derramada. Depois, tacteando o caminho, achei a porta, o corredor, o WC no extremo da carruagem, o banco vazio, o frio. Ainda duraria umas horas a corrida por entre matas e ausências. A composição, com civis e muitos militares, entrou finalmente na vozearia da Estação. Chegávamos.