Erótico XVI
Muitos sonhos são recorrentes. Aparecem sob formas inócuas e depois mudam-se, impõem-se, tornam-se tão exigentes que o sonhador, que não pode travar o fluir das histórias, acaba no papel de anjo indecente, figura ditatorial nos devaneios que uso.
Há surpresas inesperadas de forma, textura e sabor. Muitas das aventuras são inodoras, insípidas e acabam numa serenidade vulgar. Acordamos repousados, loiros, ainda candidatos a ter asas e a desejar, ardentemente, perdê-las a seguir. Outros modos de ir, no entanto, torram tudo o que podem e reduzem-nos, frequentemente, a meros pedaços de vontade insatisfeita. Vemo-nos como animais, somos o cio puro e duro, redutor e febril, cansados de resistir, com desejo de aproveitar tudo o que nos emocione, que seja simples como a paixão, ardente como fogo, avassalador.
A seguir, a insónia, a boca amarga, o olhar perdido na noite, as voltas na cama, esse lugar onde tudo poderia recomeçar se o sono viesse e nos devolvesse a necessidade de voar.