Erótico XIV
Pesava a noite. Grossas, as estrelas bordavam os mistérios de um céu negro e profundo. Ao longe as batidas do tambor improvisado e uma música antiga a rodar na festa que estaria no fim do caminho, surpresa no milheiral alto que dissimulava a casa de adobe, três quartos de janelas abertas onde se agarravam, suados, os corpos que dançavam.
Rara luz e sombras alongadas, gente que transbordava para o pátio de terra batida para gozar o fresco e beber cerveja ou vinho adulterado. Alguns de garrafa em punho mal se tinham de pé e outros, quentes da proximidade, arrastavam a companhia para as zonas fechadas da noite de sábado.
Comprava-se sexo, oferecia-se sexo, chamava-se a pele para ir onde as palavras nunca bastavam nem se entendiam. Cabiam todos e todos, pardos no escuro, se irmanavam. Quando a guerra chegou veio o medo, o êxodo, e cada um, de novo ilha, viveu as últimas semanas com todos os dias sem rebita.