CLANDESTINO

De algum modo se buscaram,

Encontraram-se e se amaram,

Amor puro, cristalino.

Tocaram-se em desejo ardente,

E fitaram-se de repente

Na realidade d’um sonho clandestino.

Casaram-se a céu aberto.

Apenas a natureza sabe ao certo

De que modo se encaixavam.

Em público as mãos nunca unidas:

A sociedade punia a vida

Daqueles que assim amavam.

O final, velho conhecido

De amores proibidos,

Perdera-se na lamúria

Da incompreendida beleza,

Desfigurada pela aspereza

Da humana injúria.

Felizes para sempre? – Não foram.

Os pesares ainda ecoam

Pelas estradas envelhecidas.

No retrato único que tiraram,

Gravados os olhos que se buscaram

Até o fim da vida.