Aquelas lembranças

Com asas de aço

para voar além do fracasso

pássaros caindo com balas cravadas no peito

esse é o nosso feito

nuvens de chuva que caem na rua

mas também já se pode ver a lua

o sol que brilha

como os olhos de minha amada que se deitava em montes de palha

com atenção em cima admira o clima

uma grande chuva de desgraça e confusão

ela ria e chorava pensando em ilusão

tive pena dela

uma pobre menina que não se achava bela

acreditar que ela poderia mudar o mundo

era o mesmo que ouvir o mudo

com facilidade seus pés flutuam no ar

enquanto as pessoas preferem andar

admirando o céu, comparando juntos o formato das nuvens

virei a cabeça e meus olhos se distraem até seus lábios

com paladar de morango, sem ação, comento sobre lírios

pensei em lhe dar um beijo

mas de repente ela acaricia meu queixo

eu bobo e inseguro elogio teu rosto

o vento que tampava seus cabelos

e ela me perguntou sobre esses textos

falei que estavam inacabados

encerrando o diálogo fomos ao lago

saindo da sombra da árvore que tinha gravado nosso coração

e onde lhe fiz a primeira declaração

ao caminhar do lago, eu paralizado

diante de tanta beleza e fofura

ela em geral era uma doçura

então ela pára e olha para mim

e diz assim: “vai ficar assim, babando por mim?”

respondo: “claro isso me lembra o porque te amo muito”

de repente ela chorou em questão de meio minuto

enquanto ela chorava, eu perguntava: “o que aconteceu?”

ela estava feliz por ser amada

e como se responde obrigado disse: “de nada”

Continuamos a andar

antes de perceber, estávamos lá

no lago que consideramos um lar

no lago chegamos

com tantos beijos para mostrar que nós amamos

forramos o chão para sentar,

com preferência na beira do lago

enquanto olhávamos as crianças brincando com barcos de madeira

eles admiravam nossa conexão quente feito lareira

com sussurros e beijos

declarações na carne do beiço

quando se percebeu

nós tínhamos caído na terra

na lama fizemos guerra

para se limpar, fomos nadar

na água houve nada, apenas trocas de risos

mas na saída teve o pular dos grilos

quando no tempo nos afundamos

eu acordei e nos casamos

ela de branco sorrindo fazendo das lágrimas brilhantes

com um diamante em seu pescoço

tivemos filhos

um casal, a gentil Ana e o forte Alcides

a Ana escalava com o pai as pedras

e naquela sombra observava um lago

o mesmo das nossas histórias que ela tanto gostava de ouvir

acompanhava o pai que gostava de ouvir

histórias para escrever

aquelas que acreditava que poesia poderiam ser

depois de tanto escrever

criei contos de fadas

iludindo pessoas com estrelas falsas

“são só pedras” eu gritava

mas a minha voz não os convencia

estava mergulhado em ouro

meu filho um nobre cavalheiro

minha filha uma delicada dama

mas e eu?

eu estava acabado

prestes a ser viúvo, minha amada estava doente

pois as estrelas que vendia não eram cadentes

eu esperava o milagre

mas ele não veio me visitar

ela a noite me dizia

se despedindo para cuidar de nossos filhos

e durante o dia, ela chorava em silêncio

quando ela partiu, meus filhos choravam

e eu? eu estava morto

mas tentei consolar aqueles jovens

queria vê-los sorrir

mas pela primeira vez não consegui

eu pensava

“porque não eu?”

se passaram anos

virei um velho surdo que chora a noite

sou avó, Ana é mãe e Alcides poeta

me prendi em casa, uma casa que me fazia sofrer

fotos, lembranças…

fui me matando aos poucos

até aquele dia

mas eu pensei muito

antes de cumprir o que queria

fiz meu mundo sorrir

Descobri que o céu não deveria ser nosso lugar

encontrei meu amor e descobri que o céu não era azul

e só existe para quem acredita

até que abri os olhos…

havia dormido ao lado dela

em uma árvore próxima ao lago

voltei a ser jovem, voltei a amar-te

Alvaro Kitro
Enviado por Alvaro Kitro em 27/06/2022
Código do texto: T7547141
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