Erótico XIII
Quando te aprendi eras a pele espelhada de um lago, memória branca que de nada sabia. Dos dedos fiz minha canoa, e com ela desenhei os limites do teu corpo ausente, risquei de leve o aroma, soltei os pássaros no teu horizonte adormecido e percebi, ainda longe, a brisa que comigo se anunciava ao teu silêncio.
Havia pouca luz mas já te sabia, já corrias imóvel pelo meu sangue alvoroçado.
Depois de recolhidos os remos eu próprio vogava à deriva, camisa aberta, fogo de brasa, lentidão atordoada.
Quando chegou o vento forte ainda o ignoravas, ainda o teu coração deslizava manso pelo escuro quando o salto, pura suspeição, te empurrou para a cascata. Era muito tarde para não ir, era impossível desistir. E molhámo-nos na chuvada e misturámos ao tempo forte o grito parado. Éramos o centro do medo, éramos a voz que sussurrava, éramos os pedaços hiantes do que se fez céu.