Objeto Voador Não Identificado
Haviam esses dois pólos que sibilavam palavras estranhas no meu ouvido:
palavras que, ora me acolhiam, ora me odiavam.
Antinomias filosóficas, paradoxos representacionais,
dialética emocional, morfologia sentimental, geologia dos afetos.
Se digladiavam na minha cabeça (bem ali no cerebelo).
Se entre-engoliam e se contra-vomitavam, num movimento de ouroboros.
Eu não sabia o quê que era o quê e quando era porquanto, só sabia que estavam lá.
As chamei de musa e de carrasco, de Marcele e de Simone,
de aumento e diminuição, de mistura e de pureza,
de inconsolabilidade e crueza.
Mas todo nome é um nome tolo,
e toda tentativa de nomear é uma tentativa de violência.
Aí no meio disso você chegou, você
que não é musa e nem carrasco,
que não Marcele e nem Simone,
que não só aumenta ou diminui,
que me consola e não é crua.
Tentei te nomear, mas todo nome é um nome tolo.
Que Objeto Voador Não Identificado é esse que paira sobre minha poesia?
Te chamei de amor, talvez seja, talvez não.
É inominável essa coisa que penetra os poros meus
E me domina e não me deixa só
(de um jeito bom).
Te chamei de amor, talvez seja,
Provavelmente é.
Mas todo nome é um nome tolo,
E toda tentativa de nomear é uma tentativa de violência.