Na bela estação serena
(I)
Na bela estação serena
Quando o verdor é benquisto
Na grama e pela açucena,
Bem se escuta o canto misto
Do pardal e do coleiro,
E, já que o canto me acena,
Faço um poema costumeiro
De quem tive como Hellena.
(II)
O que serve a coisa amena
Se nada bom me vem listo,
A visão bela e serena
Se meu querer não vem disto?
Como um pardal no poleiro
Numa gaiola pequena,
Não posso ser um guerreiro
Se eu estou preso sob pena.
(III)
Como a rosa damascena
Plantada em solo malquisto
Não vou durar a quinzena.
Devo, pelo amor de Cristo,
Bem me esconder num valeiro?
Antes prefiro que a cena
De semelhar vil coveiro
Cavando cova pequena.
(IV)
Como mulher sarracena,
De olhar e porte malvisto,
Que boa virtude encena,
Homem cristão faz contristo,
E mesmo um bom cavaleiro
Numa terra nazarena
Jamais será o primeiro
De fugir a morte plena.
(V)
Ao ciúme me condena,
Como Hera com tal Calisto,
Seu jeito só me envenena
Do querer que não resisto,
E pelo seu doce cheiro
Eu não terei morte amena.
Não existe caro veiro
Ou outra que me aliena.
(VI)
Lua, por ser uma Hellena,
Como Páris serei visto
E não quero morte obscena
Nem o labéu que vem disto,
Eu, porém, no abismo beiro,
E como a fraca dracena
Basta um puxão no rameiro
Que a morte será bem plena.
(VII)
É verdade que essa pena
Nata de um afeto misto
Era uma possível cena
Do que já era previsto,
E esse pesar altaneiro
Agora volta e me apena,
Mesmo se cheguei primeiro,
Não tive mercê pequena.
(Tornada I)
Não tive nem por novena,
Também não sei se desisto
Nem se tento outra centena.
(Tornada II)
Por Tristão não serei visto,
Nem que eu carregue outra pena,
Que me ajude um conselheiro.
Redondilha maior em coblas unissonans.