Numa gente estranha

(I)

Numa gente estranha

E na feita errada

Tive coisa azada

Que em hora m'assanha

E que ora me apanha,

Meu talante, dama,

É o que a voz clama,

Lua, e sua flama.

(II)

Por razão estranha

Que por minha olhada

É que fez-se amada;

Mas de qual façanha

De magia estranha?

Que desse bom drama

A dessarte trama

Não sei o programa.

(III)

Entre gente estranha,

E por tola olhada

Lurou como a fada,

Minha mente ganha.

A beleza e manha,

Se não me chama

Faça um panorama

Que causa não ama.

(IV)

Maldição estranha

Ou ventura olada,

Tristura acabada,

Se tenho companha

Bem será tacanha.

Se faz e reclama,

Gaia e bela dama,

A laia se infama.

(V)

Emoção estranha

O coração brada

Ao ver a risada

Boa que me ganha,

Que sua barganha

Muito bem inflama

E tão pouco clama

Que choro derrama.

(VI)

A vil raia estranha

Dará morte ousada

Triste e desalmada.

Com sua artimanha

Que vem e me arranha,

E por essa dama,

Não faço epigrama,

Mesmo se mal trama.

(Tornada)

Da mercê estranha,

Que se for negada

Traição dobrada

Será de maranha.

Redondilha menor.

De Lágrimas
Enviado por De Lágrimas em 11/06/2022
Código do texto: T7535574
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