Um dia qualquer no outono

Ao amanhecer num dia de outono

Olhei pro lado e vi

A pessoa com quem divido a cama

O quarto

A vida.

Ali

parada fiquei a admirar

Como em retrospectiva

As quatro décadas juntos...

Caminho pelo corredor envolvida em memórias

E, na cozinha, abro a janela

Olhando o céu azul

Sinto a brisa soprar...

Faço uma prece.

O tempo voou

Mas quando olho o passado

Por mais estranho

Parece ontem.

Coloco a chaleira no fogão

Faço o café...

O desjejum na bandeja

Geléia com sabor suave de pimenta...

Volto ao quarto

Ainda o vejo adormecido sob os lençóis...

Retorno em silêncio

Dorme amor...

Sentindo ainda o adocicado

Aroma do café

Estranhamente nessa manhã

Percebo que não gostaria que nada

Nada

fosse diferente em minha vida...