A paixão e a andorinha
Sou dono do paço
Sou o fim da ação
Sou a ponta do maço
Lamparina na escuridão.
Sou o choque do reclame
Sou o pó da cidade
Sou a fonte do enxame
A mentira e a verdade.
Sou o trilho abandonado
Sou o braço da companhia
Sou a fronteira do Estado
A resposta da ironia.
Sou a solução da gastura
Sou a causa do horror
Sou a pura ternura
Sou o último fulgor.
Sou o fosco do céu
Sou o breu do mar
Sou a costura véu
Sou à vista do luar.
Sou o saudar do pranto
Sou o sentimento alfenim
Sou a melodia do canto
E o coração de marfim.
Sou o vinho fadigado
Sou a subjetividade
Sou o linho emaranhado
A utopia eternidade.
Sou o fundamento da mitologia
Sou a poeira do antigo
Sou a realidade da magia
Sou a busca do sentido.
Sou a brisa da madrugada
Sou à noite desilusão
Sou a escuridão em revoada
Sou a manhã de tentação.
Sou o sussurro límpido
Sou a palavra no nevoeiro
Sou o grito de ímpeto
Sou a voz no despenhadeiro.
Sou o choro do vento
Sou o ponto da história
Sou a lágrima da vela
A lembrança da memória.
Sou a aurora distante
Sou o ser granjeador
Sou o horizonte tão errante
Sou a honra e o ardor.
Sou pequeno em minha grandeza
Sou a sede e o sertão
Sou a andorinha e sua leveza
Levando a tristeza
E trazendo emoção.