A ver navios
Nas fontes nascem as águas, limpas, puras,
E serpenteiam, ora em fendas,
Ora em riachos, ora em cachoeiras,
As vezes nos mares,
Outras, das nuvens despencam.
Elas desconhecem os obstáculos,
Não discutem, nem esbravejam,
Simplesmente desviam,
Não olham para o passado,
Sabem o que desejam.
Assim, em mim, nasceu um amor,
Limpo, puro, cristalino, feito água,
No meu ser serpenteou,
Subitamente me inundou,
Preencheu-me, dominou-me.
A minha vida, se transformou,
Porém, sábio como as águas, eu não fui,
Para o passado dela eu olhei,
Julguei, discuti, esbravejei,
Dos obstáculos não desviei.
Mansamente ela se comportou,
E feito água, de mim se desviou,
E aos poucos foi me abandonando,
E em outro amor, embarcando,
E eu, a ver navios, fui ficando.